17 agosto 2013

Sábado + livro = < 3: Liberta-me


Se eu fizesse uma lista das dez coisas que mais me irritam em livros, mocinhas que lamentam demais, triângulos amorosos e escrita pretensiosa com certeza estariam entre os itens. Mas tudo depende da execução, como a parte dois do filme Amanhecer me mostrou, e mesmo contendo todos os defeitos enumerados acima, Liberta-me, de Tahereh Mafi, conseguiu atingir um nível de excelência bastante semelhante ao seu primeiro livro. [A partir daqui pode conter spoilers de Estilhaça-me.]

Juliette está passando por uma situação pela qual vou passar dentro de alguns dias: estar em um lugar que não sabe como se comportar. Ela não convive com gente de verdade (e não pode tocar ninguém além de Adam, seu namorado, e Warner, seu algoz) há mais ou menos três anos. Eu vou fazer intercâmbio. Sim, é um pouco de exagero comparar as duas situações, mas quando se está preparando para um intercâmbio você começa a reparar até nas pequenas coisas que te fazem adaptados ao lar: a mão que você pega com o garfo, os horários das refeições, a forma de se cumprimentar, onde pendurar a toalha... Diferenças pequenas, mas que durante um período (espero que curto) me farão tão deslocada quanto Juliette no Ponto Ômega. [Momento TopTherm: quem quiser saber mais sobre meu intercâmbio falo mais sobre (além de outras coisitas) no meu vlog pessoal, O grande talvez.]

Mas um defeito do qual a garota padece e que provavelmente não terei é sua falta de esforço a tentar conhecer as pessoas a sua volta: desde que chegou ao Ponto Ômega, o quartel da resistência anti-Reestabelecimento, a vida de Julliette se resume a reclamar do treinamento e da falta de Adam.

Sim, porque não é fácil para Castle, o líder do Ponto Ômega, mantê-lo operante e com o mínimo de conforto, portanto tudo é milimetricamente calculado e não há desperdícios – seja de tempo que deve ser dedicado aos treinamentos, seja de comida.

E como isso me irritou! Sempre que eu reclamo de uma mocinha “mimizenta” (do substantivo mimimi, ou seja, reclamações sem sentido) vem alguém nos comentários dizer que Fulana tem razões para ser assim. Juliette tem razões? Sim, de sobra. Mas enfrentar situações difíceis de cabeça erguida não é o que fazem os heróis heróicos? Admiráveis, exemplos?

Superando essa parte (não inteiramente, mas precisamos prosseguir com a resenha) Juliette se bate com o treinamento por mais alguns capítulos (completamente compreensível) e então chegamos ao tal do triângulo amoroso. Na mais nova (e adorável) moda entre os escritores de Young Adult, os contos spin-off (geralmente partes da história contadas por outro personagem), Tahereh Mafi nos mostrou mais um lado de Warner, o vilão e segundo pretendente de Julliette. Não li o tal conto, mas como deve ser feito em bons livros, não foi necessário: boa parte desse lado humano também está presente em Liberta-me. Personagens tridimensionais são legais. Muito legais. Não justificou as atrocidades cometidas por ele, mas explicou – e o “mal” só é interessante quando não é gratuito.

O meu problema com triângulos amorosos não é, como há de se pensar, a falta de realidade. Sim, a maior parte das meninas não tem dois amores para a vida inteira para escolher entre, mas é um livro de FICÇÃO e não tem problema em ser só isso de vez em quando.

O meu problema é quando os ditos “amores para a vida inteira” brigam pela mocinha como se ela fosse um prêmio, um pedaço de carne (oi, Stephanie Meyer, estou olhando para você). Não é incomum que autores infelizmente tratem pessoas (ou personagens) como objetos, e é extremamente alarmante que esse tipo de abordagem faça um sucesso gigantesco entre leitores.

Felizmente, Tahereh Mafi não decepcionou aqui: as duas escolhas de Julliette a tratam como, bem, Julliette! Dando uma aula de como fazer um triângulo amoroso decente, a autora me surpreendeu – e muito. Infelizmente, a sua regularidade quanto a escrita não se manteve desde Estilhaça-me (que foi o que me fez gostar do livro em primeiro lugar): alguns trechos estão com aquela coisa linda e caótica do primeiro livro, outras soam como pseudo-poesia de imagens de Facebook.


Isso – e o tal do mimimi de Julliette – faz que Liberta-me caia na mesma categoria da maior parte de continuações de séries: uma perda substancial de qualidade. Mas que ainda é boa, e me faz querer ler a continuação.

3 comentários:

  1. Eu gostei de Estilhaça-me, mas não da maneira como pensei que iria gostar, então estou esperando algo bem melhor neste livro. Triângulo amoroso nunca foi um problema para mim, pelo contrário, eu adoro isso, desde que bem elaborado é lógico.

    xoxo
    http://amigadaleitora.blogspot.com.br/

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  2. Oie Isa
    estou empacada lendo o conto do Warner (ler pelo computador é um verdadeiro teste de paciência, pois sempre tem um filho tirando minha atenção rs), e queria saber desse lado "humano" do Warner que todos falam. mas confesso que já o amo só com o que vi no primeiro livro, imagina ao ler este??
    Essa parte da mocinha ser vista apenas como um troféu a ser disputado me incomoda muito em triângulos, e saber que a autora trabalhou muito bem esse quesito já me fez ficar mega curiosa....
    preciso ler o quanto antes.
    bjo

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  3. Ahhh fico feliz de saber que saiu o segundo livro (comentei sobre essa série hoje mesmo com um amigo). Também odeio personagens principais mimizentas (e também uso essa palavra!). Gostei de Estilhaça-me, acho que não tanto quanto você, porque dá para ver claramente o quanto gosta da série. Acho que para ler a continuação, preciso reler o primeiro livro novamente. Também adoro as partes que ela repete palavras e dá uma grande intensidade para certas coisas que são normais para a gente.

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