30 setembro 2012

Cidade das cinzas




Ei você, fã de literatura para jovens, tenho uma pergunta a lhe fazer.

Procurando nas caixas mais empoeiradas nas esquinas de seu cérebro – bem lá no fundo mesmo – quantos livros únicos não contemporâneos (ou seja, que não se focam nos problemas do dia-a-dia) desse gênero você consegue achar? Quantos livros que não fazem parte de séries – sem continuação ou problemas complexos demais a se resolver?

Depois de ver uma lista no blog Amount of words, onde Giu Fernandes lista onze séries que ela ainda não terminou de ler, constatei que estou em uma situação levemente mais desesperadora: por amar distopias e ter recentemente “feito as pazes” com livros do gênero fantástico, mais de 60% das minhas leituras no ano de 2012 foram partes de séries.

Talvez as editoras pressionem demais. Talvez um número elevado de páginas assustasse os leitores mais jovens. Talvez sejam os próprios autores que tenham preguicinha de desenvolver a história inteira em um só volume. Não sei – as razões são infinitas.

Mas daí a não poder comprar um livro sequer sem arriscar minhas unhas na ansiedade pela continuação (não rôo as unhas, mas vocês entenderam a metáfora) é bem diferente.

26 setembro 2012

Razão e sensibilidade




Eu estava lendo Cosmópolis quando Jane Austen me chamou.

Não que Cosmópolis fosse um livro ruim – muito pelo contrário pelo que pude ver – mas relancear a adaptação cinematográfica de Orgulho e preconceito na televisão causou-me aquela febre por um determinado assunto que acomete leitores e cinéfilos de vez em quando, tão inexplicável, repentina e essencial de se saciar como um desejo de grávida. Resultado: a leitura (por muito procrastinada) de Razão e sensibilidade e assistir uma temporada inteira de Downton Abbey (uma das melhores séries de época que já vi – Fernanda falou dela aqui melhor do que eu poderia) em dois dias.

Como Machado de Assis fez no Brasil, Jane Austen retratou os defeitos humanos sem dó – talvez de forma um pouco mais sutil do que o maior escritor da literatura brasileira (como convinha a uma moça de família aristocrática daquela época) mas ainda assim fabulosa.

É a sutileza da ironia em Jane Austen que faz com que eu deteste as adaptações de seus livros para as telas: exceto pelas mini-séries da BBC, em geral se dá um certo tom de comédia romântica, de besteirol, de filme com Hugh Grant enfim, uma quase heresia que me fez revirar os olhos para todas que assisti.

21 setembro 2012

Revolution (série)




Como o próprio nome do blog diz, livros, filmes e séries sobre um fim do mundo sem esperanças são a minha praia. Graças a sucessos como Jogos Vorazes, distopias literárias estão em alta (em alta demais, eu diria – alguns livros do gênero são bastante fracos, feitos somente para “aproveitar a onda”) e graças aos nerds fãs de ficção científica, não posso reclamar do número de filmes que encontro com governos despóticos. Se é distopia “de verdade” não sei (o pessoal do blog Nem um pouco épico conceituou o gênero melhor do que eu aqui) mas consegue me satisfazer.

19 setembro 2012

Cidade dos ossos




Ah, é tão bom poder mudar de opinião. Não ser estática sem medo de parecer influenciável. Não ser dona da verdade pura, absoluta e universal.

Esse prazer de ser volúvel não sendo também se aplica aos livros.

Graças a uma comunidade no Orkut – se não me engano a Nossos quotes – me interessei pela série Os instrumentos mortais. Não gosto muito de quotes de forma geral (Clarice Lispector que o diga – a descontextualizarão de sua obra em imagens de Facebook faz com que muitos a tratem como uma escritora qualquer) mas as expostas de Cidades dos Ossos eram bastante engraçadas – então resolvi tentar.

E detestei. Na verdade, quase caia no sono. Deixei então o tal ebook de lado (sim, eu era levemente criminosa naquela época – não me culpem: não conhecia as barganhas do Submarino e do Book Depository) feliz pela decisão de não ter comprado o livro “físico” – afinal, só faria juntar poeira.

Há alguns meses, porém, me deparei com Anjo Mecânico, da mesma autora e no mesmo universo ficcional (Anjo mecânico faz parte da prequel As peças infernais, enquanto Cidade dos ossos da série Os instrumentos mortais) onde os Caçadores das sombras coexistem com um mundo fantástico, destruindo demônios e mantendo a paz entre fadas, vampiros, lobisomens, feiticeiros e outras criaturas fantásticas mais.

15 setembro 2012

Puros




Dentro do mundo das distopias, algumas possibilidades são pouco exploradas por escritores e roteiristas.
Guerras com armas biológicas, por exemplo. Tão possível quanto uma ditadura a morte de quase todos pelos esporos de algo como o antrax pode render histórias interessantes e extremamente próximas da realidade.

Certo, admito, tenho outra razão para reclamar da falta de livros nesse estilo: como já disse por aqui, comecei a escrever “de verdade” com fanfics. Quando enjooei de imaginar histórias adicionais com Harry Potter, parti para trabalhos “originais” e um dos primeiros (que, como sempre, nunca foi concluído) foi um livro chamado The Plague, que retratava, vejam só, a morte de quase todos por um vírus. Sim, eu era idiota o suficiente para por um nome em inglês. E que já foi usado.

Minha falta de criatividade é um exemplo grotesco da veracidade daquela velha dica batida para aspirantes a escritor: leia, leia, leia. Sem ler, como saber que mil pessoas já fizeram o mesmo que você – infinitas vezes melhor – e dar asas a sua imaginação – para, de fato, inovar?

07 setembro 2012

Confiar




Sofro de um mal que esperocreio que seja coletivo: uma vontade implacável de colocar todos aqueles queridos e amados em uma redoma de vidro inquebrável, para que nada os atinja ou os machuque, para que nunca percam a fé na humanidade ou sintam vontade de morrer.

É claro que isso tem lá suas desvantagens: como disse o filósofo, é impossível conhecer o prazer sem conhecer a dor. Não sei se abriria mão de um pela ausência do outro, portanto não sei se desejaria isso para alguém que gosto; mas como a possibilidade de arranjar uma redoma de vidro a prova de decepções e perigos é mínima, não gasto muito tempo nessa reflexão.

Mas esse deve ser o desejo mais profundo daqueles cujos entes queridos sofreram aqueles tipos de violência indizível que preferimos ignorar a existência. Deve ter sido esse o desejo de Will e Lynn, pais de Annie, protagonista do filme Confiar.


03 setembro 2012

Starters



O mundo de Starters foi devastado pela guerra de esporos: um conflito a nível mundial, mortal para todos aqueles que não receberam a vacina contra as armas biológicas – ou seja, todos entre 20 e 60 anos que, por serem considerados menos vulneráveis que os pequenos ou os idosos, ficaram para um depois que não chegou.

Depois do falecimento de seus pais, Callie então foi tirada de uma vida segura e saudável para ser jogada na dura realidade das ruas, morando em prédios abandonados com outras crianças órfãs enquanto foge dos inspetores – ser um menor sem responsável é um crime que não se escolhe cometer, punível com trabalho semi-escravo em Instituições – e de gangues de adolescentes rebeldes, perigosos e assustados. O mundo então fica dividido: os jovens Starters (alguns sortudos, adotados por avós ou bisavôs; outros, assim como Callie, nem tanto) e os idosos Enders (ativos como nunca, já que a sociedade precisava continuar e a tecnologia evoluiu o suficiente para deixá-los saudáveis até os 200, 300 anos). Um grupo sente um medo mortal do outro, vendo-o como inimigo, como predador.